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  • Foto do escritor Ayrton Rochedo Ferreira

O Príncipe Herdeiro - A ética e o compromisso da gestão.


O Príncipe herdeiro estava inquieto. Percebia-se sua impaciência diante de tantos que se ocupavam com os preparativos da sua apresentação. Finalmente recebia um cargo de seu pai. Enquanto alfaiates e ourives lhe provavam trajes e adornos, ele ia fazendo as últimas consultas ao velho ministro, que já sobrevivia há dois reinados. O jovem estava interessado em saber de algumas coisas que lhe pareciam essenciais:

- O que me cabe ainda, além de mandar?

- Todo o poder tem um sentido.

- Qual é o sentido do meu poder?

- Deves colocá-lo a serviço dos resultados.

- Mas os resultados não servem ao poder?

- O que seria dos resultados se o poder se servisse deles para os seus próprios interesses?

- Então, de que me adianta mandar, se os resultados não servem a mim?

- Os resultados atendem à tua razão de ser.

- E por acaso a minha razão de ser... não está em mim?

- Encontrarás a tua razão de ser, no “outro”.

- Se for o “outro” que se beneficia dos resultados, para que serve o meu esforço em alcançá-los?

- Se não quiseres te enganar com o teu cargo, aceita que a tua riqueza reside no que és; se te bastares apenas tendo, nunca serás. Somente sendo, terás. O único patrimônio que te pertence é a capacidade de obter resultados através das pessoas, a quem emprestarás o que és.

- Mas quem sou eu, sem o poder que o cargo me confere?

- Tu começas antes do teu cargo. O poder não deve modificar-te, a não ser pela dimensão da responsabilidade que te é imputada. No exercício de teu cargo deverás ser aquele que produz resultados para quem te deu um patrimônio para administrar. Com o patrimônio em operação, atenderás às necessidades daqueles que precisam dos seus frutos. Assim, servirás a uns e a outros. Na tua missão, a realização está no serviço.

O velho ministro visivelmente contrariava o jovem herdeiro. Suas palavras soavam como uma censura à sua perspectiva de poder. O jovem Príncipe considerou o risco de perder sua majestade aceitando tais lições diante de subalternos e resolveu se impor:

- Tua visão é míope. Enxergas apenas o cargo que meu pai me concede. Acaso não percebes que quemvai ocupá-lo é, também, o herdeiro?

- O Príncipe que olha apenas para si, não conhece o seu trono. A grandeza de administrar não cabe no interesse egoísta do benefício pessoal. Se o patrimônio te

pertencesse, talvez te esquecesses de colocá-lo a serviço de teu povo, como o faz teu pai. Se todos pensassem como tu, os patrimônios se depreciariam e não

haveria emprego para ti e para ninguém. O teu problema não está no cargo, mas na visão que tens do “outro”.

O ministro saiu resoluto. O Príncipe, que a esta altura mirava-se num espelho, ainda perguntou ao velho que abandonava os aposentos:

- Que “outro”?

Esta pergunta ficou sem resposta até o final de seu mandato. A sua falta fez o povo sofrer, os irmãos o temerem e seu pai morrer de desgosto, quando o filho usurpou-lhe a coroa. Por último, vieram os invasores que facilmente tomaram o poder de um homem só. Conta-se que nenhum “outro” ajudou-lhe a resistir.

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