SIMPLICIDADE

 

Ayrton Sérgio Rochedo Ferreira

Não há maior ingenuidade do que pensar que o simples começa simples.
 
A simplicidade, que é a mais bela virtude de uma construção humana e a mais eloqüente demonstração da sabedoria, é fruto de um processo completo, obstinado e doloroso em busca da solução simplificadora, que foca a finalidade e não esquece a boa relação entre as partes.
 
Para isso, o processo de simplificação ousa além dos limites conhecidos, enfrenta caminhos complexos, supera a impaciência dos apressados, a superficialidade dos imediatistas e a ingenuidade dos simplistas.
 
Este esforço é o único caminho para se chegar a soluções simples e não simplórias.
 
Quando alguém pede ansiosamente para simplificarmos uma solução, convém perguntar, para não frustrá-lo mais tarde:
 
Seu desejo é simplificar ou mutilar? Simplificar ou empobrecer?
 
Para mutilar ou empobrecer, existem soluções mais rápidas.
 
A mutilação abre mão de partes significativas do problema, como se elas não afetassem o todo.
 
O empobrecimento abre mão das conseqüências do tratamento, como se  não existisse “o depois”. A mutilação estreita. O empobrecimento encurta. Talvez até sirvam à causa de quem patrocina, dependendo do seu horizonte de interesse ou de responsabilidade.
 
Aqueles que buscam a simplicidade em caminhos fáceis se frustram quando obtém soluções incompletas, superficiais, eficientes na parte, mas ineficazes no todo, que atendem a finalidades medíocres e depois geram muito retrabalho.
 
Simplicidade é a melhor solução para uma finalidade, não a mais imediata.
 
Simples é um caminho que não é fácil.